No último sábado (12), uma delegação do Sindsemp-RJ formada pela diretoria da entidade, esteve em São Paulo, representando a categoria do estado, no Encontro Nacional dos Servidores do MP 2025. O primeiro dia do evento reuniu sindicatos da categoria de todo o país e promoveu, por meio de mesas de discussão, debates de temas que impactam diretamente a vida funcional e a rotina dos servidores do Ministério Público: crise fiscal e os supersalários, inteligência artificial e a ampliação da precarização do trabalho e reconhecimento do burnout como doença ocupacional, uma luta conduzida de forma ativa pelo Sindsemp-RJ.
A primeira mesa foi comandada pelo doutor em Administração Pública e Governo (FGV) e autor do livro “Caminhos da política no Ministério Público Federal”, Rafael Rodrigues Viegas. O debate sobre crise fiscal e supersalários aprofundou a compreensão sobre políticas econômicas que impactam o cotidiano dos servidores e enfraquecem a instituição.

“O Ministério Público tem atuado de forma disfuncional, fora dos parâmetros que manda a Constituição. Em outras palavras, estamos falando de um corporativismo predatório onde os interesses privados se sobrepõem aos interesses da sociedade”, ressaltou Rafael. Na visão do palestrante, a saída para qualificar a atuação dos servidores é ampliar o debate para a sociedade, “para isso é preciso tirar o juridiquês e comunicar com evidência, com números, usar as redes sociais e marcar presença no cotidiano” alertou.
Sobre inteligência artificial e a ampliação da precarização do trabalho do Ministério, tema da segunda mesa, o debate discorreu acerca do desafio que o ambiente de trabalho do MP enfrenta com a implementação da IA. O assunto foi amplamente debatido por Rodolfo Avelino, doutor em Ciências Humanas e Sociais (UFABC) e conselheiro do CGI.br; Sérgio Amadeu da Silveira, professor da UFABC e cientista político e Miriam Cheissele, advogada e especialista em Direitos Emergentes.

A mesa também apresentou a dificuldade diante do enfraquecimento dos vínculos empregatícios e a eliminação de postos de trabalho com a ascensão de novas tecnologias. Segundo Sérgio da Silveira, as entidades devem avaliar a inclusão de duas novas reivindicações na pauta sindical. “Exigir a participação dos trabalhadores na implementação e na fiscalização dos projetos de IA e indicar responsáveis para cuidar dos sistemas de automatização. A IA deve complementar o trabalho dos profissionais, não substituí-los. Essas demandas já começaram em vários países, e no Brasil nós também precisamos colocar”, observou.
A última mesa foi sobre saúde mental, uma das lutas mais importantes da categoria em todo Brasil, e tratou dos impactos do burnout na vida dos servidores do Ministério Público. O debate pontuou principalmente em como o reconhecimento da doença pode trazer um tratamento mais adequado. Infelizmente, o esgotamento profissional é um problema crescente dentro da Instituição devido a alta demanda de trabalho e a pressão constante.
Para falar sobre o assunto, estiveram presentes a psicóloga Sílvia Generali, a procuradora do Trabalho (MPT) e coordenadora nacional da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CODEMAT/MPT), Cirlene Zimmermann, eo advogado e especialista e mestrando em Direito Constitucional pelo IDP-DF, Rudi Cassel.

“Pode fazer terapia de manhã, de tarde e de noite. Se voltar para o mesmo ambiente de trabalho, não há ticket-terapia que dê conta, não tem psicólogo suficiente na instituição. Hoje é isso, a pessoa toma remédio para acordar, para suportar o trabalho e para dormir. Isso significa o que? Continuar tratando esse trabalhador que hoje está adoecido e fazendo curso de resiliência? Certamente não é isso”, criticou a procuradora.
Os próximos dias do evento ficaram reservados para o Congresso FENAMP e Assembleia da ANSEMP, onde vão acontecer as eleições para o novo sistema diretivo e aprovação do plano de lutas 2025 de ambas.